sexta-feira, 18 de julho de 2014

ABRA ESSA PORTA! - RESENHA SUICIDAS, RAPHAEL MONTES.

Suicidas foi entregue em minha casa por volta das duas horas da tarde dessa segunda. Hoje, é sexta-feira,  e as nove horas da manhã eu o terminei enquanto tomava meu café na padaria perto do meu trabalho. Surpresa, atônita, em choque.
Raphael Montes o escreveu quando tinha vinte e dois anos e com maturidade impressionante criou uma estória policial longe da estrutura clássica. Violenta, bem escrita, imprevisível.
Ritinha, Maria João, Lucas, Danilo, Otto, Waléria, Zak,Noel e Alessandro , as nove peças de um quebra-cabeças  chamado de caso  Cyrille´s house .Nove pessoas no auge da saúde e dos sonhos que resolveram se massacrar no porão da casa de campo milionária dos pais de Zak em uma roleta-russa.
 Teria sido desespero, imaturidade, medo diante dos divórcios dos pais, da doença de entes querido, de novidades inesperadas o que os motivaram a algo tão cruel?
Um ano depois, a delegada responsável pelo caso reúne as mães dos jovens mortos para  leitura das anotações de Alessandro( aspirante a escritor), buscando finalmente um desfecho para a investigação. Os registros das conversas são brutais, emocionam. Verdades   incomodas são ditas.Mães despejam suas dores, suas perdas, o choque do qual nunca se esquecerão.
Nada em  é o que parece ser. Confesso, em muitos momentos tentei me convencer  que minhas impressões sobre um outro personagem estavam erradas. Pais que usam pessoas como escadas para ter sucesso, mães permissivas demais, garotas e garotos promíscuos e interesseiros são mostrados de maneira claustrofóbica :Egoístas,arrogantes, interesseiros.Demasiadamente humanos.
E irresistíveis.
Aquino, um dos policiais que aparecem na trama pergunta a Alessandro até que ponto ele iria para defender um amigo.Além do meu olhar surpreso e minha risada nervosa ao ler o final mais uma vez surpreendente de um livro do Raphael outra pergunta também me assombrou : A que ponto as pessoas que mais amamos podem chegar ao serem acuadas pelas tragédias da vida?
Melhor você ler o livro e não pensar nisso. E torcer para que um grande produtor de cinema também.
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                                                     D.SConsiglio







sexta-feira, 11 de julho de 2014

QUE A FOFURA SEJA SEMPRE PRESENTE- RESENHA DEIXE A NEVE CAIR

Uma ex aluna me surpreendeu quando, durante nossa aula, me ofereceu  Deixe a neve cair e avisou:
 " Teacher, você vai adorar"
E olha, do alto de seus treze anos Maria Eduarda estava certíssima : O livro é composto de três contos escritos por Maurren Johnson (  O expresso jubileu), Jonh Green(O milagre da torcida de Natal) e Lauren Myracle ( O santo padroeiro dos porcos). Três situações que se passam na noite de Natal, durante uma das piores nevascas dos últimos anos.
 O primeiro conto, de Johnson é sobre uma menina de nome estranho e pais mais ainda que  namora um rapaz daqueles que todo mundo já conheceu um dia ( o cara perfeito para os outros, mas um péssimo namorado) e está em um trem que fica preso por causa da neve  com um grupo de líderes de torcida malucas e um rapaz misterioso.Para mim  o melhor, principalmente pelo senso de humor.
O de Green mostra três amigos que deixam uma maratona de filmes de James Bond pela metade e com um jogo Twister tentam chegar a um restaurante  onde um grupo de líderes de torcida está preso por causa da terrível nevasca que parou o trem onde estavam.Opa, parece que eu me repeti? Não! E aí que vem o charme do livro: Os três contos são interligados, os personagens do primeiro vão aparecer nos seguintes, e aquela sensação de "Opa, estão falando do Stuart, da Angie" é uma delícia, dá um sensação de familiaridade.
O terceiro, de Myracle, é sobre Addie, uma funcionária do Starbucks, linda, loira, que em uma noite depois de discutir com Jeb, seu namorado fofo e apaixonado acaba beijando um cara gato, mas idiota. E se pune por isso cortando o cabelo de um jeito ridículo ( impossível não imaginar como ela ficou), e se questionando se realmente é uma pessoa egoísta como todos dizem que ela é. Dos três, achei o mais fraco, mas ele é que dá fechamento na trajetória dos personagens.
 Deixe a neve cair é  gostoso de ler, mas  longe de ser incrível. O que ele faz com certeza é que a gente tenha a sensação de que se a fofura, o amor e  a amizade fossem regras em nossas vidas, seríamos muito mais felizes.
                                                         D.SConsiglio

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O TRIBUNAL DO FACEBOOK.


Se a justiça do Brasil é reconhecidamente lenta o mesmo não se pode dizer da caça às bruxas praticada nas redes sociais: Em um dia a mãe que não opta por uma cesariana é julgada por sua terrível escolha, o político com câncer torna-se motivo de chacota, o cantor que sucumbiu a uma crise nervosa é taxado de perdedor. E seguimos perfeitos, inabaláveis, inquisidores apontando nosso dedinho para julgar quem bem entendermos, do conforto das nossas casas, protegidos pela tela do nosso computador.

O último a sentar no invisível banco dos réus dos justiceiros virtuais é Neymar ,culpado, segundo alguns pelo exagero da mídia em torno da sua fratura, pela crise do SUS,por chorar em campo, por ter nascido. E dá-lhe piadinhas, já que a dor, a frustração ( imagina, para um jogador de futebol deve ser normal sofrer uma fratura no auge da copa do mundo) só atinge quem não tem dinheiro, não é?
 Estou começando a acreditar em uma  novo teoria da conspiração: Seriam os profissionais  famosos robôs, programados para entreter uma massa inferior, comprando o mundo com o dinheiro vindo de alguma grande corporação secreta?, Psiu, leia baixo, talvez eles estejam nos espionando.

Ter senso crítico não deveria ser sinônimo de falta de generosidade, compadecer-se do sofrimento do próximo, não importa a conta bancária que ele tenha não te fará inferior, comprado pela  Globo, pelo PT, pelo bolsa família. E nem menos inteligente, pode ficar tranqüilo. Talvez não tão rancoroso, e pelo menos desde que nasci sempre me ensinaram que isso era bom.

Será que algo mudou e eu não percebi?

Se advogados e juízes, com anos de experiência podem cometer erros o que esperar de quem se arma do falso poder que a Internet proporciona? Romeu Tuma Junior, em seu livro Assassinato de Reputações cita o tribunal do Google, segundo ele  um dos grandes responsáveis por sua derrocada: Informações repassadas a toda velocidade, vidas sendo destroçadas com uma rapidez irreparável, e continuamos achando que tudo não passa de brincadeira, do famoso e idolatrado(?) senso de humor do qual tanto nos orgulhamos.

Uma das pessoas que teria participado do linchamento da Fabiane Maria de Jesus teria atribuído as  redes sociais a responsabilidade por algo abominável, sem explicação. O tribunal do Google, da Internet, do facebook, povoado por pessoas cegas por um falso sentimento de dever que precisa ser cumprido , já puniu com a pena de morte 
 e segue fazendo vítimas dos piores dos crimes: A injustiça e a falta de humanidade.
E isso me dá muito medo.
                                                                 D.SConsiglio

 

 

 

domingo, 6 de julho de 2014

AMOR, ROCK N´ROLL E DOR ( UM CONTO EM TRÊS PARTES)

PAIXÃO, ROCK N´ROLL E DOR. (UM CONTO EM TRÊS PARTES)

Conheci Carlos no nosso primeiro ano de faculdade : Eu estava em uma das turmas de Letras, e ele cursava Direito, seu projeto de vida desde o Ensino Médio.

Nos aproximamos quando ele me apresentou seu primo André, com quem saí durante um mês, até ele sumir sem deixar explicações. Não fiquei com raiva, fiquei com um novo amigo: Se antes Carlos... era só o primo gente boa de um cara gato que eu paquerava, em poucas semanas ele se tornou uma companhia indispensável.

E com nossas saídas aos fins de semana começaram as insinuações:

- Ah, mas vocês nuuunca?

- Se não aconteceu, Sandrinha, vai acontecer.

Como reagíamos? Simples, brindando as especulações com muita cerveja e tequila. E contrariando todas as previsões de que amizade entre homem e mulher não existe, mantivemos nosso relacionamento após nos formarmos.

Logo que deixei a faculdade consegui um emprego em uma grande rede de escolas de idiomas e Carlos e um grupo de colegas vinham batalhando um lugar ao sol, abrindo um escritório de advocacia juntos. Nossa vida amorosa? A minha havia começado um lindo capítulo chamado Rodolfo e a de Carlos, bem...

Ele dizia não estar disponível para nenhum relacionamento pois seu foco estava todo na carreira, que apenas começava. Nossos conhecidos, como sempre nos inundavam de perguntas, achismos:

-Tá vendo, ele sempre gostou de você!

Mas ele e Rodolfo acabaram tornando-se amigos ( de passarem o sábado a tarde no futebol) e eu não encontrava o mínimo sinal de que todas aquelas fofocas teriam sentido. Carlos estava longe de ser o tipo submisso e sempre mantinha alguns casos esporádicos.

Numa quarta feira em que Rodolfo estava viajando a trabalho o convidei para comer um hambúrguer . Eu sabia que ele havia passado o fim de semana em São Paulo com os rapazes do escritório. O que eu não imaginava era que ele teria uma novidade que me pegou de surpresa.

- Conheci alguém.

E para meu espanto, respondi rudemente. Juro, foi sem querer.

- Como assim? Em um fim de semana? Em uma noite?

Ignorando minha atitude explicou: Luciana era amiga de Cleiton, um de seus sócios. Cantora, estava se apresentando no bar onde eles passaram a noite de sábado. Uma conversa, vários sorrisos, algumas coisas em comuns e aconteceu : Passaram a noite juntos no apartamento dela. E meu amigo começou a semana apaixonado.

Mostrou-me uma foto: Luciana ao microfone, vestindo uma regata preta de cetim e calças de couro. Cabelos loiros,uma franja ao estilo pin-up , tinha no ombro uma linda rosa tatuada .Durante aqueles nossos sete anos de amizade eu havia conhecido quase todos os seus casos e ela tinha um estilo diferente. Deixei a estranheza de lado:

- Mas e aí, quando vou conhecê-la?

Se alguém me perguntasse agora eu não saberia definir o brilho em seu rosto anguloso. Ao ver meu amigo transparecer uma alegria tão radiante, capaz de cegar quem estivesse ao seu redor me dispus: ( afinal, amigos sempre foram para essas coisas)

- Vamos combinar então, e logo! Quero conhecer a responsável por esse sorriso.

Ao relembrar aquela quarta feira sinto raiva por não ter percebido que fui a primeira a ser cegada por aquela estranha e inesperada felicidade.

*

“Ah, cantoras e suas agendas atribuladas” justificava Carlos toda vez que perguntávamos quando finalmente ele nos apresentaria Luciana.

Em uma semana ela estava no Rio de Janeiro,na próxima em Santa Catarina. Perguntei incontáveis vezes quando ela tocaria de novo no bar onde eles se conheceram. Nossa cidade é perto de São Paulo e eu estava curiosa.

- A banda está ficando famosa. São Paulo não é mais prioridade.

Rodolfo me pedia para não pressionar, talvez ele quisesse dar mais um tempo até que eu, “sua melhor amiga”( título que para mim a essa altura já não fazia a mínima diferença)aprovasse o namoro. Carlos viajava toda semana para encontrá-la e nós nunca podíamos acompanhar. Nós, que sempre o apoiamos em seus tempos de solteiro fomos postos de lado.Enquanto meu namorado tentava lidar com a minha irritação, Carlos mudava cada vez mais. E se distanciava de mim.

- Mas Sandra, é normal. Começo de namoro, você já passou por isso- Até minha mãe estava a par da situação.

Não, eu não havia passado por isso : Nunca havia escondido nada daquele que era meu amigo e que em dois meses se tornou um completo estranho. A única coisa que parecia ser verdadeira era o sucesso que Luciana e sua banda estavam alcançando.

Era domingo, eu estava acabando com o último pote de Haagen-Dazs da geladeira de Rodrigo quando ele me chamou na sala:

- Amor, olha quem está na TV.

Reconheci os cabelos platinados, a tatuagem de rosa: Luciana se apresentava com sua banda em um programa de música independente. Me surpreendi com sua voz: Forte, rasgante, lembrava minha adolescência ao som de Alanis Morrissete. Liguei para Carlos.

Ele pareceu assustado quando contei que estava assistindo a sua namorada cantar. Incomodado, apenas me perguntou o que ela estava vestindo.

- Um vestido vermelho, de um ombro só. Lindo, aliás.

- Presente meu, agora preciso desligar. – E me deixou muda segurando o telefone.

Quase perdi o final da apresentação e Luciana com sua boca vermelho mate avisar:

“ Venham nos ver , tocaremos sábado em São José dos Campos”

Quase derrubei o pote de sorvete. Meu cérebro deu um estalo:

- Baby, temos programa para o fim de semana.

*

Melhor que esperar Luciana tocar na capital foi saber que seu próximo show seria na cidade onde moramos. Decidi não contar para Carlos que finalmente veria sua diva no palco.

Não o encontrei durante aquela semana : Luciana folgou e eles estavam em uma viagem romântica. Mas no sábado ele me chamou para correr e quando perguntei sobre a viagem abriu um sorriso tão absurdo que por um momento parecia que eles haviam se casado em Paris, tamanha era a felicidade.

- Incrível, a melhor. Estou cada vez mais apaixonado.

Aí fiz a minha última tentativa:

- Tá com medo de me apresentar e de que eu fale algo ruim a seu respeito?

Gaguejando, só me respondeu:

- Semana que vem a gente combina alguma coisa, prometo.

Não precisava prometer. Eu havia me cansado e partiria para a ação : Precisava conhecer Luciana ,saber quem era a mulher que estava causando a situação que me incomodava: De pessoa presente, alegre, leve, Carlos havia se tornado, seco, distante., cheio de segredos E para mim amor estava longe disso. Não queria odiá-la antes de conhece-la, mas confesso que estava ficando difícil.,

Rodolfo ainda tentou me dissuadir da ideia, mas eu estava com as respostas mais afiadas que meu salto quinze.

- Não adianta, vamos logo.

E fomos. Assim que entramos no bar, Rodolfo ficou pálido: Carlos já estava lá, em um mesa no ponto mais escuro do salão, perto do banheiro. Ao nos ver seu rosto mudou. Parecia traído, uma pessoa que eu nunca havia visto antes. Que tipo de reação foi aquela? Só não mais estranha que ver um furacão loiro vindo em nossa direção:. Luciana era realmente linda e parecia estar tomada por algum sentimento maligno, cheio de ódio:

- Vocês conhecem esse cara? Ótimo, tirem ele daqui já, ou chamo o segurança.

Carlos tentou se levantar sem falar nada, mas Luciana o agarrou pela manga da camisa. Gritava coisas que para mim soavam desconexas, mas que Rodolfo entendeu perfeitamente:

- Amor, eles não estão juntos.

O nervosismo dela era tão grande que pediu para que Rodolfo segurasse Carlos, que tentava fugir daquela cena estranha.

- Seu amigo é um psicopata! – E me entregou um desenho de seu rosto. Reconheci a assinatura: A letra de Carlos.

E começou a me contar coisas nas quais eu poderia levaria uma vida para acreditar:

Ela namorava e sem coragem para se aproximar Carlos começou a mostrar seu interesse da forma mais intimidadora possível: Aparecendo em todos os seus shows, mandando presentes caríssimos.

Ainda tentei ponderar:

- Mas você é uma artista, tem admiradores, é natural.

-Não quando o admirador começa a te perseguir, a criar uma realidade absurda com você.Ele chegou a me mandar e-mails dizendo que eu estava linda com as roupas que ele havia me dado de presente. Isso é normal?

Lembrei do vestido vermelho que só havia sido um presente na imaginação do meu amigo, e das viagens, os fins de semana que ele havia criado.

- Fins de semana?- Abriu seus e-mails pelo celular. Se eu tivesse algum problema do coração eu teria enfartado:

Sua caixa de entrada estava abarrotada de mensagens: Ele tinha criado uma realidade particular: A chamava de meu amor, dizia que ela estava linda com as roupas que ele havia dado, falava de uma viagem que eles iriam fazer em seu aniversário de namoro.

Luciana tremia, não sabia se podia confiar em mim, mas eu sabia que ela e Carlos precisavam de ajuda.

- Por favor, fala com ele. Me disseram para denunciar, mas o Cleiton é meu amigo e me prometeu fazer algo. Tô esperando até agora

Dei-lhe um abraço sincero e tentei acalmá-la. Mas o grito de Rodolfo tirou de mim qualquer possibilidade de uma atitude sensata.

- SANDRA, PELO AMOR DE DEUS!

Ele chorava, olhando para o meio da rua e um grupo de pessoas parecia não acreditar no que estava vendo. Era a cena que eu levarei mais que uma vida para esquecer:

O corpo de Carlos caído no asfalto , um carro parado , o motorista gritando ao telefone que tinha feito uma besteira. Era surreal ,pavoroso. E eu não entendi nada.

- Ele me pediu para pegar uma cerveja e disse que esperaria aqui fora. Só ouvi o carro, os gritos, o barulho. Meu Deus!

Poderíamos apelar a Deus, a todas as forças do universo que nada adiantaria : Eu sentia uma dor quebrando os meus ossos, me emudecendo, minhas forças deixando meu corpo. Luciana juntou-se a mim, os olhos vazios,sem saber o que dizer:

- Isso foi culpa minha.

Eu não conseguia culpá-la. Não sentia raiva. Eu só me castiguei, desde o primeiro momento: Carlos, você deveria ter falado comigo.

E até hoje, três anos depois me vejo em um mar de interrogações : Por que me escondeu? Por que tanto medo de se mostrar verdadeiramente para Luciana?Por que se jogar em frente a um carro? Do que ele teve vergonha?

Carlos, logo ele que era cheio de sonhos e segurança ( segurança essa que eu admirava e até invejava um pouco) foi pego em uma armadilha, não soube lidar com uma paixão e não teve coragem de pedir ajuda.

Rodolfo e eu nos casamos e toda vez que olho para nossa filha Helena sinto um desejo enorme de que Carlos a tivesse conhecido. Ele seria um ótimo padrinho, um tio incrível. Ela o conhece por fotos e quando as vê já fala com sua voz doce de uma criança de dois anos: Tio Cá.

Nunca mais soube de Luciana ou de sua banda. Ela esteve no funeral e ainda se sentia culpada pela atitude de Carlos naquela noite. Foi uma passagem rápida com um abraço e um pedido de desculpas. Não discuti, pois eu mesma ainda me sinto de alguma forma, responsável.

Falo com ele em minhas orações, talvez esperando alguma explicação divina para seu suicídio, para o trauma que insiste em nos deixar. Quando me pego nesses momentos tento pensar em seu rosto e achar conforto naquele sorriso que me acompanhou por tantos anos.Mas ainda é difícil.

E eu que até então adorava canções sobre amores intensos ao viver o meu próprio final trágico fui obrigada a crescer, a ver a vida de outra forma, a lidar com a dor para não sucumbir.
Quem cantaria Something ao telefone com uma voz horrorosa para me fazer rir? ( ele torturava a minha canção favorita, mas era impagável) ou dançaria aquela coreografia imbecil quando ouvisse Love Hurts?

Pena que nem George Harrison ou Nazareth me ensinaram a lidar com a saudade.
                                                                                                                 D.SConsiglio

quarta-feira, 2 de julho de 2014

OS ARGENTINOS DA MINHA VIDA( SIM, VOCÊ LEU DIREITO)

      Ah, os argentinos...
 Em mês de copa alguns deles quebram cadeiras de estádios, outros fazem bagunça nos metrôs  e todos querem se divertir. Mas para mim o que importa é que na  seleção das artes pelas quais sou mais apaixonada,dois argentinos já foram escalados há muito tempo.
Ricardo Darín chegou primeiro como Marcos no filme Nove Rainhas, a obra que mudou minha cabeça sobre o cinema dos nossos vizinhos: Sua  atuação como o ladrão cínico me levou à uma pequena obra-prima, O filho da noiva, de Juan Jose Campanella,em que ele atua lindamente com Norma Aleandro, que faz sua mãe portadora de Alzheimer. Campanella também o dirigiu em O mesmo amor, a mesma chuva, Clube da Lua e O segredo dos seus olhos.Todos devidamente assistidos e amados por essa que vos fala por suas histórias extremamente humanas, cativantes, emocionais.( aliás, traço comum nas produções argentinas)
A falta de  afetação que Ricardo imprime aos seus trabalhos é o que os torna incríveis: Do padre que luta por uma favela em Elefante Branco( um filme, duro, triste) ao rabugento e engraçadíssimo Roberto de Um conto chinês, ele parece ser uma pessoa possível, sem estrelismos.
Julio Cortázar veio depois com o livro Os prêmios, a história de pessoas comuns que ganham um cruzeiro na loteria e que durante essa viagem tentam fazer coisas extraordinárias, e me surpreendeu ao saber que um de seus contos, As babas do diabo, foi a inspiração para um dos meus filmes favoritos, Blow up, de outro mestre, Antonioni. Filme incrível, um conto aterrador , o autor que agora leio todos os dias.
Li esses dias uma blogueira dizer que tinha preconceito contra autores nacionais. Quando a gente abre a mente, descobre que o cinema é muito mais que Hollywood e que a literatura não se resume aos livros mais vendidos. E se diverte muito mais, vai por mim!

(ps: E eles são parecidíssimos!!!) 

Esse é o Ricardo
E esse  o Julio
                                                                                               D.SConsiglio

terça-feira, 1 de julho de 2014

LEMBRE DO GEORGE- GEORGE HARRISON, O BEATLE QUE ME EMOCIONA.

George nos deixou na semana em que consegui meu primeiro emprego como professora. Abri o jornal e lá estava : Ele havia dormido para sempre e se fez naquele dia  mais vivo do que nunca: No meu quadro branco suas palavras, a conversa dele com Deus.

 Amo o Paul, o Ringo e tenho uma admiração enorme pelo John, mas a quietude do George ainda me emociona. Levo minha paixão pelos Beatles na pele, em uma tatuagem feita há quatro anos atrás e apesar de eu ter escolhido o refrão de uma das mil famosas músicas escritas por Lennon e McCartney, são as canções de Beatle quieto que me fazem chorar sem explicação.
Minha mãe tem uma relação forte com a música e talvez eu tenha herdado isso dela. Não toco nenhum instrumento, mas posso em minutos desenvolver uma relação de amor e ódio com uma canção, não importa o ritmo. É até um pouco bizarro, mas parece que ouço não com os ouvidos, mas com o coração, pois é ele que fica feliz quando ouve de I need you a All thing must pass e me põe para dançar desde meus seis anos com a gravação linda que George fez de Got my mind set on you.
Sou exagerada com palavras,sentimentos, mas o fato é que o trabalho do  fab four caçula, seja na banda ou solo me transporta a uma possível outra vida onde talvez tenhamos nos encontrado.Se alguém me perguntar um dia se  lembro  do George, nem responderei, pois sou feliz apenas por  termos habitado o mesmo mundo, e conhecido aquela canção que cantei com meus alunos no dia em que ele foi embora. É com o vídeo dela que encerro esse post.
Com os olhos cheios de lágrimas. Ah, esse George.
                                                                           D.SConsiglio







                                                   





domingo, 29 de junho de 2014

NÃO FALE COM ESTRANHOS- DIAS PERFEITOS, RAPHAEL MONTES

Téo estuda Medicina e é um rapaz totalmente fora dos padrões : Garante que não vê importância no amor e nutre um mínimo de carinho apenas por Gertrudes, que o ouve atentamente sempre que precisa. Quem é ela? Um cadáver usado nas aulas de anatomia.
 Mora com a mãe cadeirante, Patrícia de quem cuida não por amor, mas por ser algo que se espera de um filho. E muda de rumo no dia em que conhece Clarice em um churrasco ao qual foi levado a contragosto.
Espontânea e amigável, ela é estudante de cinema ,está trabalhando no roteiro de um filme chamado Dias perfeitos  e o conquista de cara. O problema é que Téo é uma mistura de inocência bizarra e inadequação, uma bomba relógio prestes a explodir.
Obcecado, começa a segui-la, com atitudes que ao lermos nos deixam de boca aberta. Se aproxima dela e quando é rejeitado a sequestra e a esconde em uma mala( você leu direito) e a carrega para um hotel para que termine seu roteiro. Em sua mente ele precisa mostrar o quanto a ama. E fará isso de qualquer maneira.
Raphael Montes em seu segundo livro destrincha a alma doente de um apaixonado que justifica todas as suas atitudes desprezíveis como sendo por amor.Violento, cru  é um livro que te sequestra a cada página. E não te liberta até o final seco, imprevisível, sem firulas, perfeito para uma estória bem amarrada e cheia de surpresas. Ah, e com uma pequena referência ao enredo de seu primeiro romance, Suicidas ( que ainda não li , mas está a caminho), que para mim foi uma sacada genial.
Talvez eu conheça um Téo, talvez você conheça. Espero que não.
                                                                                                     D.SConsiglio

AMOR PRA RECOMEÇAR

Era isso o que eu queria:seu ombros para apoiar minha cabeça, suas mãos a me acarinhar os cabelos e a vontade de tempo eterno, de horas que se recusem a passar.
Adivinho do meu amor, você me acolhe nos braços que se definem proteção, e nos  convida sem perceber a trazer o mundo bem perto da gente,nossa toda particular recompensa por acreditarmos  que tudo mudaria para melhor.
 Nos tornamos o delicioso,o perfumado, o incrivel.Atrevi-me quando arriscar era algo impensável, amei e amo sem lembrar dos tempos em que apenas a paixão inconsequente poderia ser possível.
O que mais eu posso querer?
            D.SConsiglio

NOSSO TIME, MINHA HISTÓRIA.

Quando o Palmeiras foi rebaixado pela primeira vez e me perguntaram se eu não pensava em mudar de time respondi sem pestanejar:
- Você já pensou em mudar de família?
Parece exagero mas não é: Sou a caçula e única filha entre dois irmãos e pensar em nosso time de futebol é definir nossa extensão como família: Desde o hino alviverde cantado após os Parabéns a você nos aniversários, até a foto pregada na geladeira em que estamos vestindo nossas camisetas do Palmeiras, me sinto confortada com nosso pequeno território  futebolístico. É nosso e ninguém tasca, seja na série A, B ou C.
  Vivi, minha amiga e muito mais palmeirense que eu, me convidou inúmeras vezes  a conhecer a casa do nosso time: Foram vários domingos a recusar, até que deixei o receio de lado , pus minha calça jeans mais surrada, arrumei minha bolsa com um moletom para o caso de esfriar e o peito com o orgulho por finalmente poder dizer: Eu já estive no Parque Antártica.
Má, meu irmão do meio me aconselhou:
- Não vá de salto, e amarra uma blusa na cintura.
 Alê,o mais velho, pediu:
-Vai com cuidado.
E os dois concordaram:
- Você vai amar.
Não precisei da blusa, o sol estava a mil, mas se eu pudesse teria levado um coração de reserva: Enquanto subia as escadas para as arquibancadas  sentia as batidas do meu na boca. Ainda perguntei para a  Vivi se era normal. Ela riu
 Inocência a minha.
O Petkovic bem que tentou com seus dois gols estragar a adrenalina que me deixou rouca e com as pernas doloridas de tanto pular. Desculpe, Pet, mas a sensação ao sair do estádio,com as mãos sujas de pipoca doce, o cabelo bagunçado e o rosto vermelho por causa do sol(sim, esqueci o protetor solar)era de catarse total.Se a derrota do Palmeiras havia sido dentro de campo,fora dele eu me sentia uma vitoriosa.
Minha mãe estranhou tanta alegria quando cheguei em casa, já que os cariocas haviam nos vencido por 2X0, mas na verdade eu não me importava; eu perdoaria fácil o meu Verdão só pelo prazer de tê-los visto jogar.
Na minha lista de primeiras vezes inesquecíveis conhecer o antigo estádio do meu time ocupa um dos primeiros lugares. Aquele tipo de programa em que você esquece a vaidade, paqueras possíveis e só tem olhos para o campo e ouvidos para a própria emoção. Minha linda Vivi marcou um golaço pela nossa amizade ao me proporcionar um daqueles domingos para ficar na história.              
                                                                         D.SConsiglio










sexta-feira, 27 de junho de 2014

O CARA QUE EU QUERIA SER

O cara que eu queria ser entrou na minha vida há exatamente 13 anos, no Natal de 2001 e me fez ter vontade de ter trinta anos antes de eu ter chegado aos vinte e cinco. E olha, também foi professor de Inglês.
 O livro que me apresentou ao cara que eu queria ser virou um dos meus filmes favoritos. O cara que eu queria ser agora está com 57 anos e já me despertou até uma certa paixão pelo Arsenal, seu time do coração.
 Lembro que quando li a sinopse de Alta fidelidade, caí de amores imediatamente pelo Nick Hornby: Uma ótima história, um protagonista às voltas com aquelas mancadas que todo mundo comete
e música, muita música. Não tinha como não dar certo.
Depois vieram Um grande garoto, Como ser legal , Uma longa queda,Slam, Juliete Nua e Crua e os de não-ficção Febre de Bola( que narra a sua relação de amor com o Arsenal) e 31 canções. Estão todos no meu armário de livros, assinados e bem guardados. Não dou, não vendo, não empresto.
 Os personagens de Nick têm em comum manias e personalidades que todos reconhecemos em nós mesmos e em quem amamos. Os diálogos são cortantes, rápidos e cheios de humor, gente como a gente fazendo coisas que se nunca fizemos, um dia elas acontecerão, pode ter certeza.
Seu trabalho é pautado por outra paixão além da música, o esporte. Quando ganhei o 31 canções, uma compilação de textos escritos por ele sobre suas canções favoritas me peguei admirando-o ainda mais por saber da história de seu filho que nasceu com autismo, em 1993. Uma parte linda de sua vida que envolve a música I´m like a bird, da Nelly Furtado.Curioso?:)
  E Febre de Bola , ao contrário do que eu imaginava não é nem de longe um livro maçante; ele me serviu até de base para um texto sobre a violência nos estádios, é emocionante, triste, envolvente. Para quem gosta de futebol,  imperdível.
 E de todas as adaptações feitas de seus livros para o cinema a minha de longe favorita é a dirigida por Stephen Frears, de Alta Fidelidade, com John Cusack no papel principal e  Jack Black dando um show, só para citar dois nomes do elenco sensacional.
 Agora estou em prantos tentando assistir a recém lançada de Uma longa Queda, com Pierce Brosnan e Toni Collete ( não existe atriz melhor para incorporar as personagens femininas de Nick)
 Uma das falas de Rob , protagonista de Alta Fidelidade é " Livros, discos e filmes, essas coisas importam de verdade". O cara que eu queria ser e que admiro mais que qualquer famosa bonitona definitivamente sabe das coisas
                                                                             D.SConsiglio

terça-feira, 24 de junho de 2014

CIDADES DE PAPEL E O DIA EM QUE CONHECI JOHN GREEN

  Hey, queridos, ótima terça.
Confesso que comecei a ler A culpa é das estrelas e parei na página 30. Fiquei comovida, incomodada e desisti do livro. Talvez ainda o retome, quando tomar coragem
Mas aí a minha aluna, fã do John Green me emprestou Cidades de Papel e ao contrário dos " Ih, é o mais fraco" " Ah, a Margo é uma mala" acabei o livro em uma semana, em meio a risadas e uma sensação deliciosa.
  E sim, Margo Roth Spielgman, a vizinha e paixão platônica desde sempre do Quentin Jacobsen é um pouco mala. Em uma noite ela, a personificação da menina descolada e cheia de amigos aparece na janela do rapaz e o leva para uma noite de vinganças. Deixa em Quentin uma sensação de ter vivido as horas mais divertidas de sua vida... E some no dia seguinte.
 Mas os sumiços de Margo são famosos e ninguém, a não ser Quentin dá bola. Acompanhado de seus amigos Radar e Ben e Lacey ( aqueles coadjuvantes essenciais, responsáveis pelas melhores tiradas) começa a seguir as pistas que julga, Margo deixou para ele.
  Cidades de Papel é um livro sobre como idealizamos as pessoas que consideramos perfeitas: Ao seguir as pistas de Margo, Quentin começa a desvenda-la e vê-la com novos olhos. Uma das passagens que mais gostei no livro é a conversa que ele tem com Radar sobre como precisamos entender que as pessoas podem ser maravilhosas mesmo com defeitos
insuportáveis.
Cheio de referências pop  e uma narração leve é um livro jovem e cheio de frescor. Foi com ele que também fui tocada pela escrita de Mr. Green.
                                                                              D.SConsiglio

segunda-feira, 23 de junho de 2014

PEQUENOS MILAGRES.

Hey, queridos !
 Há exatamente dois anos nascia minha sobrinha mais nova,Marcela.Uma pequena guerreira que ao vir ao mundo com muita pressa ( sete meses) teve que lutar pela vida e o fez com muita garra e graça. Sábado foi sua festa de aniversário e corujices de tia à parte foi de emocionar sua alegria ao cantar parabéns.
 Na minha página do face escrevi há algumas semanas  uma pequena crônica sobre nossos milagres diários, que muitas vezes nos recusamos a ver. Marcela é um dos nossos e por ela somos muito mais felizes. Espero que gostem.

                                                         PRA GENTE SER MILAGRE

Ser tia é ter um amor de outra intensidade, carinho inimaginável que se renova todos os dias. Depois de três grandes presentes, meu sobrinho e duas sobrinhas lindos e mais que amados (  que levo tatuados na pele), eis que nasceu a nossa caçula, por quem me apaixonei desde o primeiro momento, indefesa naquela UTI ,mas com a força de um gigante, sedenta pela vida que conquistou e pela primeira infância que vive agora,tão querida, amada,tão nossa.
Hoje enquanto corre comigo pelo corredor ela gargalha alto quando digo que vai ganhar de mim. Tão pequena,  veio ao mundo com força, garra, luta. E abriu nossos olhos para uma vida que não sabíamos que estava aqui,sem as exigências diárias que fazemos a nós mesmos e  aos outros.
Somos mimados, queremos demais, exigimos arroubos de amor, paixões quentes, empregos maravilhosos e chefes exemplares. Comparamos  o carro do colega ou a casa da amiga muitas vezes com aquela sensação de que não evoluímos, que andamos com uma etiqueta escrita PERDEDOR na nossa testa. Olhamos para tanto, enxergamos tão pouco.
 Enxergo muito mais do mundo em que vivo, das bênçãos que me cercam sempre que ela me presenteia com seu sorriso, sua voz doce. Após seu nascimento aprendi que milagres estão ao nosso lado todos os dias. E como podemos ser ingratos ao deixá-los de lado, abandonados só porque não correspondem as nossas expectativas.
Minha sobrinha  mudou a minha vida com a luta que travou contra as dificuldades dos seus primeiros meses. Foi esperando que ela resistisse à batalha que foi seu nascimento que aprendi o valor da verdadeira fé, da esperança que não se abate pelo medo, a levar comigo a certeza de que para quem acredita não existe cotidiano sem milagre. Está aqui, pertinho, juntinho de você. Só não vê quem não quer.
                                                                         D.SConsiglio

domingo, 22 de junho de 2014

PRAZERES CULPADOS? ONDE? ONDE? SUSHI, MARIAN KEYES

Hey, queridos!!

Adoro manter parte dos meus livros em cima de uma mesa ao lado da minha cama e agora ao arrumá-los me peguei rindo segurando um exemplar do Sushi, da irlandesa Marian Keyes.
Uma amiga minha, nos seus 20 e pouquíssimos anos me disse que não tem paciência com os livros da Marian. Venho aqui confessar um pecadinho: Esse foi o terceiro dela que comprei :) Os primeiros foram Melancia e Férias, nos quais ela conta a história de duas irmãs vindas da mesma numerosa  e doida família irlandesa.
Sushi é um livro sobre a busca pela felicidade que pode vir cedo demais, sem que a valorizemos como deveríamos ou tarde demais, quando a gente menos espera. As histórias de Lisa, Ashley e Clodagh se cruzam em uma Dublin que é cenário recorrente dos romances da autora. Lisa,uma durona e sofisticada editora de revistas é transferida para um novo emprego que nada tem de fabuloso. Ashley é a típica boa menina : ansiosa, o tempo todo disposta a ajudar e Clodagh é a princesa a quem a felicidade sempre sorriu.( e que parece estar mergulhada em uma eterna insatisfação , em passagens que podem te deixar com raiva)
Confesso que em algumas partes fiquei um pouco irritada com certos clichês, mas Sushi é Marian na sua melhor forma: Leve, divertida, faz o tempo passar de uma forma gostosa. Em tempos de discussão sobre as qualidades de autores bestsellers é daquele livro um pouco  prazer culpado , que as pessoas podem olhar meio torto, mas que distrai que é uma maravilha. Longa vida a essa querida irlandesa!

QUANDO A VIDA INSPIRA.

Uma grande amiga passou por uma situação complicada de saúde há dois meses atrás. Lutou bravamente, como a grande guerreira que é e hoje está se recuperando, cuidada por sua família e amigos de longa data que a amam muito. ( Eu não tenho visitado-a porque peguei uma gripe chatérrima e minha voz de pato não está me permitindo). Quando ela saiu do hospital contou-nos uma história linda sobre si mesma e seu marido. Fiquei com ela o dia todo na cabeça e me inspirei a escrever esse pequeno conto. ( É bom escrever com tanta inspiração diária, não é?)

                                                     
O AMOR QUE CURA

A enfermeira acaba de fechar a porta e aqui estamos nós: Eu, você e o pequeno grande filme da nossa vida. Você está tão serena que me é difícil acreditar que  dois dias atrás vivemos nossos momentos mais terríveis.
Te  vejo dormir ao meu lado há mais de vinte anos e hoje você está mais linda do que nunca : não parece nada frágil depois da cirurgia a qual pessoas que não te conhecem disseram que você não sobreviveria. Eu te conheço muito bem e mesmo sentindo o maior medo da minha vida nunca duvidei da sua força. Minha guerreira resistiria.
E como sempre você não decepcionou a sim mesma, deu a sua gargalhada maravilhosa para o pessimismo e já saiu da sala de cirurgia com os olhos abertos.Meus olhos queridos, a janela da minha alma.
Agora sinto novamente o coração no peito, o pensamento voltando ao lugar, a respiração ao ritmo normal e rio sozinho ao lembrar  do seu rosto quando me viu pela janela da sala pré- cirúrgica. Eu estava sem ar, mas jamais demonstraria. Só queria te mostrar que eu estava ali. Que sempre estarei aqui.
Suas mãos estão quentes como na primeira vez em que as segurei , louco de ansiedade para te beijar. Aquele foi o começo da nossa história cheia de alegria, dificuldades e batalhas gigantescas. Você, sempre a fortaleza a me apoiar, a ser o modelo para nossos filhos, enfrentou com graça e racionalidade admiráveis a sua, a nossa maior luta. Não caibo em mim de tanta felicidade.
  Minha mulher voltou e dorme o sono merecido de quem em dois meses viu o próprio mundo  virar do avesso, e agora eu pouco me importo com o incomodo nas costas por causa do sofá minúsculo.Ele não é  nada perto da dor que sentimos quando aqueles médicos não acreditaram em você.
 Queria que eles te vissem  agora.
Prometi  que estaria aqui quando você acordar. Quero  ouvir sua voz alta a me perguntar por que te olho com ar de bobo: Simples, porque a parte que me completa não me foi tirada. E  prepare-se,  agora a nossa história será reescrita com um personagem mais que principal : O dia em que ao vencermos a sua doença, vivemos de novo para a nossa eternidade.
                                               D.SConsiglio

SEJAM BEM VINDOS!

SEJAM BEM VINDOS, MEUS QUERIDOS!

 Eu e meu namorado adoramos  passeios no shopping regados a café e passadinhas na livraria mais próxima. Hoje depois de um daqueles cappucinos enormes que deixam nossa noite mais feliz e a compra pela primeira vez de um Carlos Drummond de Andrade cheguei em casa com um poeminha na cabeça. Aqui está ele, espero que gostem :

( detalhe para o casal da foto, hehehehe)

                                                 
DEIXE-ME CHORAR.

Não justificarei meus lábios trêmulos e os olhos vermelhos;
E nem pedirei desculpas pelo que você sempre julgou exagero, falta de postura.
Ah, se nossos passos mal sincronizados tivessem se encontrado,
 E a direção do seu olhar fosse a mesma da minha
Se você tivesse se cansado de me fazer esperar
Por um amor que não viria
Talvez eu não precisasse gastar
Palavras que mesmo para mim soam tão mesquinhas
Deixe-me chorar
Por todo o tempo que me anulei
Achando que isso, ledo engano
Era sinônimo de força
Deixe-me falar
Pelos dias em que me culpei pelo amor que não despertei em você
Não fuja, por favor
Abra seus ouvidos, já que trancou para mim seu coração
Paciência, é só o que te peço
E apenas dois minutos, não é muito
Deixe-me de novo
 Voltar à mim.
                                                                         D.SConsiglio